Hoje visitei um lugar bonito. Não, queridos, não era um cemitério. Só porque uma pessoa quer se matar não quer dizer que ela é mórbida, gótica, essas coisas.
Era uma pracinha em construção. Não tinha nada lá. Um funcionário da prefeitura estava colocando a primeira muda de árvore.
Por que era bonito então? Sei lá, o gosto de espaços abertos que o ser humano tem. Sabiam disso? O ser humano aprendeu a gostar de espaços abertos, clareiras, planícies, porque ele podia vigiar bem longe e evitar a aproximação de predadores.
Eu vou explicar melhor porque às vezes as pessoas não entendem Darwin direito. No passado bem remoto, conforme o homem se desenvolveu, existiam pessoas que gostavam de planícies e pessoas que gostavam de matas fechadas. Acontece que aqueles que gostavam de matas fechadas procriavam muito menos, porque eram vítimas fáceis de predadores.
Nós somos descendentes daqueles que gostavam de planícies, daqueles que se sentiam bem em espaços abertos, e que, com isso, conseguiam ficar longe de leões, tigres e outros bichos. Somos parecidos com esses ascendentes, gostamos de espaços abertos.
O ser humano desenvolveu isso por instinto de sobrevivência. Mas então como eu fico? Será que, no fundo, apesar de tudo, ainda tenho algum instinto de sobrevivência? Não, não tenho. Acho que gostei da praça aberta porque a morte também é como uma interminável planície, com um horizonte misterioso e sedutor lá no fim.